Medo de trovão
Ontem, minha filha de 9 anos veio ao meu quarto após um estrondo de trovão. Estava assustada, e mesmo depois de eu ter dito e explicado que nada ocorreria, ela voltou com medo para o seu quarto.
Sempre ouvi autores, teólogos e pessoas comuns compartilharem suas experiências com o sobrenatural, com o improvável, com situações para as quais não se encontra explicação. Nestes meus anos de vida, nunca conheci alguém que não tenha passado por momentos em que os rumos da vida seguiram caminhos inexplicáveis, ou em que precisou acreditar em algo, em um momento de angústia ou desespero. Acho que a vida nos traz tantas surpresas que não consigo imaginar o ser humano lidando com essas situações sem olhar, nem que seja de relance, para o transcendental. Nossa sociedade moderna nos trouxe uma série de dados e medições com explicações para quase tudo o que acontece. Hoje, compreendemos (ou achamos que compreendemos) as causas das variações climáticas, o comportamento da economia, as intenções políticas dos líderes mundiais. Mas, mesmo com esse conjunto de informações, parece que continuamos reféns do acaso. A vida planejada, medida e calculada não nos trouxe mais paz e tranquilidade.
Pode ser que nossa arrogância ou prepotência nos faça fingir que não nos assustamos com trovoadas ou turbulências de avião. Sabemos que turbulências não derrubam aeronaves, mas, sempre que passo por uma (e já passei por algumas), vejo as pessoas ao meu redor começarem a orar baixinho, pensar na família ou pedir perdão pelos seus pecados. E, quando o avião finalmente pousa em segurança, os aplausos ao piloto surgem automaticamente.
Eu também passei por uma fase em que procurava ter uma explicação para tudo. Me envolvi em leituras sobre ciência e psicologia. Tentei conhecer novas religiões e outros pontos de vista sobre as coisas que não entendia. Entendi que o fato de termos pontos de vista diferentes ou interpretações distintas sobre o mesmo fato não torna um lado ou outro mentiroso ou equivocado. O próprio termo "ponto de vista" já nos mostra que é impossível duas pessoas terem a mesma opinião, pois a física impede que dois corpos ocupem o mesmo lugar. Estamos fadados a olhar o mundo por prismas diferentes.
Mas, depois de ler, estudar e muito "curiar", estou chegando à conclusão de que mais sábios eram aqueles que acreditavam no inexplicável. Aqueles que viam a mão de Deus em todas as coisas. Aqueles que agradeciam pelo orvalho, por um dia de sol, por uma boa colheita, e pediam que Deus os guiasse nos abismos e encruzilhadas da vida. Tentar entender tudo e procurar uma explicação técnica para o que nos acontece não está nos trazendo uma vida mais tranquila. No fim das contas, a angústia da razão parece ser maior. É como se, quando um trovão estourasse na sua janela, você não tivesse um pai para te abraçar. Minha relação com Deus está caminhando nessa direção. Estou tentando desaprender as coisas e, se for possível, ser um "inexplicador" para os meus filhos. Espero que eles conheçam o Deus do inexplicável, do sublime, do estrondo, e que sempre tenham um pai para os abraçar.
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