Fim de semana chuvoso
Este fim de semana foi chuvoso. Fins de semana chuvosos sempre são um desafio para a nossa sociedade atual. Acho desafiador porque a maior parte das pessoas vive hoje em apartamentos com pouco espaço para lazer. As crianças são as que mais sofrem — ou estão conectadas a algum equipamento eletrônico, ou estarão destruindo o sofá, tentando inventar algum tipo de brincadeira para passar o tempo. Deus seja louvado se estiverem destruindo o sofá, pois não existe tristeza maior do que crianças quietas em seus quartos, presas ao vício dos jogos e das redes sociais.
Os adultos, acredito, já estão em outra fase. Parte deles se entretém com filmes e comida, mas também enfrentam o desafio de conviver intensamente por 48 horas com a família e, cruz credo, ter que conversar com eles. A maior parte dos lares não possui livros, e se possuem, muitos não os leem ou não os terminam. Estudos indicam que cerca de 60% das pessoas que compram livros não os finalizam. E, mesmo que tivessem livros, dificilmente passariam mais do que alguns minutos lendo.
Imagino que, antigamente, as famílias moravam em casas. Morar em uma casa já oferecia uma série de atividades e possibilidades. Uma criança em uma casa com um quintal já teria opções mais interessantes do que um sofá. Eu cresci em apartamento, mas estava sempre na casa dos meus avós, onde havia um quintal. Um quintal minúsculo, de uma casa construída em meio terreno. Mas tinha um jardim e uma romãzeira. Na base dessa romãzeira, havia alguns tatus-bola, e parte do meu passatempo era procurá-los e trepar nessa árvore.
Era uma época sem eletrônicos e com uma única TV em casa. Nem sempre eu tinha a primeira opção de uso e nem sempre tinham programas infantis passando. Os pais também tinham muitas coisas para fazer, pois me parece que uma casa sempre dá mais trabalho. O quintal precisava ser limpo, e toda semana havia algo para consertar. Os fins de semana eram para limpar, consertar e, pasmem, conversar. Sim, as famílias eram maiores, e eu guardo na memória que a casa da minha avó sempre estava cheia de gente. Meus tios estavam sempre por lá, e era comum ter alguma visita, sentada na cozinha ou na sala, acompanhada de bolo e café.
Os assuntos eram intermináveis e interessantes, mas não havia tanta preocupação com geopolítica ou aquecimento global. Interessante mesmo era saber se alguma comadre havia melhorado ou se o compadre tinha parado de beber. A filha de alguma Dona Maria também despertava atenção. "Tão bonita, mas tão namoradeira" — onde já se viu? E não faltavam histórias sobre aqueles que não gostavam muito de trabalhar. Toda família tinha um.
Eu adorava estar lá, e minha avó adorava receber. Pena que estamos perdendo esse hábito de ir à casa das pessoas e recebê-las sem aviso prévio, só para jogar conversa fora.
Hoje moro em uma cidade longe da minha família. Quando o dia está bonito, conseguimos sair e passear pela linda cidade, mas quando chove, ficamos presos a nós mesmos e aos nossos eletrônicos, ou condenados ao shopping.
Shopping é algo que parece errado. Começa pelo nome, que não tem uma tradução decente. É uma vergonha para a nossa língua ter um nome tão feio. É um lugar onde pagamos estacionamento caro para entrar, ver lojas com coisas que não queremos comprar e comer uma comida ruim que não queremos comer. Eu dificilmente consigo ficar mais do que uma ou duas horas, porque já conheço todas as lojas. Vale para descarregar a energia das crianças e sair de casa um pouco. Acho que as luzes trazem uma pequena euforia, mas estão longe de oferecer satisfação.
No final, eu preferiria mil vezes estar na minha romãzeira (não era minha, mas para mim era) e tomar café com bolo na companhia da minha avó.
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